domingo, 27 de dezembro de 2015

INFORMAÇÃO DEMAIS CEGA

Na dúvida sobre quem eu sou,
Na desconfiança da mudança,
Na insegurança sobre quem ele é,
Na tristeza de estar pior,

Ele me critica.

É de uma forma tão culta,
Tão politicamente cortês,
Mentirosa e mesquinha,
Esmagadoramente pedante,

Que eu acredito.

Mordi a isca,
Passei dois dias pensando
que sou uma merda,
De novo.
Como resposta, o silêncio.
Ele faz de brincadeira,
Se empodera no meu pesar.
Tira de mim declarações mortas,
Infla o peito e boa,
Silencia.

Amanhã, quando eu viajar,
Espero que saia essa coisa péssima,
Essa sensação que só tenho experimentado com ele,
Que ela vá embora.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

DEPRESSÃO

Um Ser denso, cansado, sem vontade de ir pra qualquer lugar, que desistia fácil de todo objetivo proposto, que via na falta de dinheiro um empecilho pra ver o mundo, isso era eu. Pensei inúmeras vezes em desistir da Universidade, em não viajar pra Amazônia, em vender meus equipamentos e voltar pra casa... já escrevi cartas de despedida e planejei mortes rápidas, sem dor.

Estava em um relacionamento normal, e até a paz de estar com alguém me era cansativa. Inúmeras vezes, de forma passional, provoquei discussões, causei um caos na vida dele e um ainda maior na minha. Me distanciei de todo mundo e não entendia porque essa gente ainda se relacionava com outras pessoas, tão normais, tão paradas. Travei meus pensamentos nas experiências ruins, que não foram poucas, e voltei minha vida para a lamentação, pra tristeza de acordar todo dia no mesmo corpo, na mesma cama, com a mesma pessoa.

"Vem, levanta", "Você precisa parar de fumar", "Você precisa fazer exercícios", "Você tem que levantar", "Para de sofrer com isso agora", "Você é muito exagerada", "Você tem que cumprir sua agenda", "Você não é insubstituível", "Você é arrogante", "Você é hipócrita", "Você é mesquinha". Cancerígenas, assim que eu adjetivo essas frases. E elas vinham de todos os lados, inclusive daqueles que dividiam a rotina comigo.

Antes eu era muito animada, ansiosa, engraçadinha. Não sei em qual momento houve a transição de personalidade, não sei quando a depressão chegou, não sei quando a insegurança desceu e fez da minha cabeça morada, só sei que durou oito anos, que ela dorme aqui dentro e tá doidinha pra me consumir de novo. Mas não vai!

Foi um processo muito complicado. Começou com a viagem ao mundo amazônico, uma imersão que vai ficar pra sempre grudada em mim, onde questionei minha vida, avaliei as coisas que não fluíam bem. Terminei o relacionamento com brigas colossais, vivi a Universidade de corpo e alma, doida pra formar e sentir que havia passado mais uma etapa. Passei dias duvidando de mim mesma e dias amando ser quem eu sou. Tive ajuda de grandes amigos, novos e antigos, que me ajudaram só por estarem presentes, conversando sério, escrevendo projetos, dando risada das coisas da vida e falando bobagem. Saí da minha caverna e zona de conforto, entendi que, opa, pra sair daquela cama eu só precisava de estímulo.

Passei a ver minha vida como única e caiu a ficha que ela é uma dádiva de quem está vivo. Tenho a sorte de ter saúde, uma família que acredita em mim, companheiros sinceros que estão sempre presentes e a sede por amorzinho (essa, insaciável).

Se pra acreditar em mim você precisa de uma citação, eu escolho Galeano e o clichê do Mar de Foguinhos, onde vejo minha vida com depressão como o fogo bobo, imperceptível, e minha consciência sã como o fogo que arde a vida com tanta vontade que incendeia até quem está em volta. Culpo as faíscas daquelas pessoas que foram tão boas comigo nesses dois últimos meses, e que viram em mim uma brasinha em potencial... obrigada por se aproximarem.

Passar por isso foi uma prova incrível de que existe jeito. Hoje eu escrevo esse texto pra mim mesma, como forma de reavivar minha esperança se um dia esse cachorro preto resolver voltar.


ps: ninguém é obrigado a ajudar um depressivo, só é preciso cuidado para não piorar a situação. O silêncio, muitas vezes, é nosso maior aliado.

sábado, 19 de dezembro de 2015

FELICIDADE I

A vida passa rápido demais
pra não haver franqueza.
Se apresse em ser feliz,
ficar do ladinho de quem,
na maior hombridade,
te faz sentir amor.

É preciso ser cuidadoso,
então coloque o capacete,
as joelheiras, as cotoveleiras,
as tornozeleiras e se arrisque
num amor
cheio
de risco.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

CIDADE VII

Noite com cara de despedida e eu, chorosa, vendo as gotinhas do nascer do dia caírem sobre tudo.
A madeira, arquiteturalmente projetada pra ser feliz, encaixa o tronco pra ver o céu.

Dali, vejo o topo de um prédio que um pintor disse dar medo,
a esperança, verde de fome, da lanchonete aberta,
e os pássaros, ainda solitários, abrindo espaço para o sol
nas nuvens.

Um dia justo até pra combinação sol e água:
equilibrada e democraticamente,
vieram dois arco íris.
O primeiro a estatelar as 7 cores,
nascia da torre sem sino da igreja azul.
O outro, que cobria a maior parte do céu,
coroava o morro mais alto da serra.

Só as transições causam esse impacto.
De fase, de dia, de clima, de estação, de cidade.

Sinto o cheiro nostálgico desse lugar
em que eu ainda estou.

sábado, 5 de dezembro de 2015

CIDADE V

Desses encontros,
onde monólogos quebram o silêncio,
me diminuo como mulher.
Há sempre o homem presente,
que viveu, que experienciou,
e eu, a mulher, que escutou.
Que bela plateia.

Quando passa a bola (da conversa),
surge o desleixo pela fala.
O ouvido parece que embola,
e a boca da mulher (vazia),
mexe sem som,
fala um emaranhado de histórias
sobre homem, mulher,
bebida, trabalho, estudo,
gato, exercício.

Delas, se conclui:
é puta, é louca,
é chata, é burra,
é pobre.

A mulher fala tão pouco em um primeiro encontro que,
enquanto ela sabe de todos os projetos da vida do homem,
ele mal se lembra do nome dela.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

CIDADE IV

Chove forte e a telha ultrapassa o limite do som.
Já não há música que abafe ou que emita sinal.
Fico lá fora, com o guarda-chuva, e observo.
Percebo a grandeza de se permitir dividir o momento,
eu e a chuva, a chuva e eu.
Hoje quem venceu foi ela, escandalosa, encorpada,
desceu gritando e espancando o que a impedia de tocar o chão.
Não sei o que ela tem com o chão,
parece não perceber a liberdade de ser livre
pra escorrer gritante pelo mundo.

CIDADE III

Sorriso vale o dia, vale o Sales,
vale o choro, vale a alegria.

Sorriso faz valer a "crise",
desmerecer a hipocrisia,
esquentar gente fria.

Sorrir tira o chão,
tira o bico, tira o atraso.

Sorrir faz estender tapetes,
fidelizar o perdão,
acalentar os corações.

O sorriso faz valer o encontro
entre desconhecidos
randomicamente
dispostos pela rua,
dispostos a ter vida.

CIDADE II

O sol estala e ainda é noite,
na cabeça mais de 24 horas.
Memória recente transbordando,
cansaço alcoolizante.
Trôpega de ideias,
finalmente se aproxima do papel
- digital.

"Aqui reinará alegria,
essa do começo desse dia.
Se vier o REM,
que dure poucas horas,
pra que eu veja dois nasceres
em uma só data"

Dormi por seis horas,
ainda há luz, sol,
pássaro pra ir embora.
Felicidade ainda ativa,
corpo descansado
que necessita comida.
Gás entusiástico,
panela colorida.